Rio -  Falta pouco para a sua despedida da seleção brasileira de vôlei, mas Giba prefere não fazer contagem regressiva para o adeus. Bem-humorado, o ponteiro alega que iria pirar se ficasse pensando nisso. Aos 35 anos, ele só foca no projeto olímpico, que consiste em disputar os Jogos de Londres totalmente recuperado da cirurgia na tíbia esquerda a que se submeteu em fevereiro, no Rio.
Já são 20 anos defendendo o País, contando a categoria de base, e Giba guarda com carinho muitos momentos, com direito a um ouro e a uma prata em três participações em Olimpíadas, além de três títulos mundiais (2002, 2006 e 2010). Nesta entrevista, ele recorda a carreira vitoriosa, fala sobre a amizade com o levantador Ricardinho, a vontade de cursar Administração Esportiva, e ainda sobre os filhos, Patrick, de três anos, e Nicoll, de sete.
Giba foi uma das estrelas do vôlei que participaram da cerimônia | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
“Eu e o Ricardinho nos conhecemos há 20 anos. É só um olhar para o outro que a gente sabe o que fazer' | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
CONTAGEM REGRESSIVA
“Não estou pensando nisso. Estou pensando simplesmente em viver cada dia. Se eu parar para pensar o que foi e o que será o fim da minha carreira na seleção brasileira, acho que eu piro. Então, eu prefiro não pensar porque, por mais preparação que eu tenha, nunca será realmente o que vai acontecer no momento”.

20 ANOS DE SELEÇÃO
"Todos os anos foram difíceis, especiais. Eu vim crescendo a cada dia como homem, atleta, pessoa, aprendendo novas línguas e culturas. As dificuldades aconteceram para que eu crescesse. Então, eu não vejo como dificuldade. Consegui tirar só coisas boas do que passou durante esses anos”.

MOMENTO MARCANTE
“A Olimpíada, com certeza. Participar de uma Olimpíada é o sonho de qualquer atleta. Ganhar, então, nem se compara. Mas, se a gente for colocar, temos 2002 na Argentina, 2006 no Japão, 2010 na Itália (referindo-se aos títulos mundiais); Liga Mundial que ganhamos, os anos que passei com o Radamés (Lattari, ex-técnico da Seleção), quando eu era moleque e estava aprendendo a jogar. Cada momento foi especial”.

TRÊS OLIMPÍADAS
“Sydney foi um deslumbre por estar participando da primeira Olimpíada, mas sem deixar de estar focado. Infelizmente, fomos eliminados nas quartas de final para a Argentina. Sobre Atenas, não tem nem o que dizer: foi a consagração de um ciclo olímpico em que a gente tinha ganhado tudo e foi só coroar com os louros. Em 2008, foi uma superação após tantas dificuldades que a gente teve durante o ano e conseguimos chegar numa final de novo e ter uma medalha de prata. O difícil foi voltar para o Brasil e escutar todo mundo falar: ‘Vocês perderam a Olimpíada’. Então, se uma geração foi considerada de prata até hoje o que nós somos se temos um ouro e uma prata? Eu me decepcionei um pouco com isso, mas é assim que acontece”.

A DESPEDIDA PERFEITA
“Fazendo um ponto de saque, acabando a Olimpíada e indo embora para casa (risos)”.

RICARDINHO DE VOLTA
“Estou muito feliz. Foi uma pena realmente ele não ter estado em Pequim. Mas aconteceram algumas divergências e o importante é que foi tudo muito bem resolvido. Não adianta querer achar quem estava certo ou quem estava errado”.

SINTONIA COM RICARDINHO
“São 13 anos dividindo quarto e 20 anos que nos conhecemos. É só um olhar para o outro que a gente sabe o que fazer”.

PROJETO OLÍMPICO
“Depois do último raio-X, a fratura está consolidada. O Ney (Pecegueiro, médico da Seleção) pediu mais duas semanas para eu começar a saltar. Então, quando começar a Liga Mundial, eu começo a saltar. O projeto é a Olimpíada. Hoje a Olimpíada está garantida, mas a gente precisa dar um tempinho para não ir com muita sede ao pote. O projeto olímpico a cada dia está melhorando”.

JOGOS DE LONDRES
“Nunca me imaginei fora. Qualquer sacrifício que eu fiz ou faça vai ser pequeno perto de alguma coisa muito maior que é estar numa Olimpíada representando o País”.

RECUPERAÇÃO DA CIRURGIA
“Todas as dificuldades que aconteceram na minha vida eu sempre peguei pelo lado positivo. Se isso aconteceu teve um porquê. Tem que levar com bom humor. Se não for assim, piora”.

FUTURO FORA DAS QUADRAS
“Quero estudar um pouco de Administração Esportiva. Isso é muito importante. A década esportiva do mundo é do Brasil. A gente tem que ter recursos humanos. Independentemente do estudo, com essa experiência que eu tenho em quadra, em viagens, em toda essa parte, mesmo administrativa, de um grupo, dentro de uma competição, eu posso ajudar bastante nisso”.

FILHOS
“Acho difícil (eles seguirem o seu caminho). O Patrick tem uma tendência muito maior do que a Nicoll a seguir para o mundo esportivo. Mas ainda é cedo para falar qualquer coisa. Para ela, é uma rejeição muito grande pelo fato de o vôlei estar tirando o pai de dentro de casa. Ele já tem aquela coisa de moleque, que tem muita energia e quer brincar de bola de qualquer jeito. É cedo para falar, mas com o DNA que os dois têm eu já estou fechando contrato (risos)”.